domingo, 22 de maio de 2011

"A Gente Não Lê" - Rui Veloso





A Gente Não Lê
Rui Veloso
Composição : Carlos Tê / Rui Veloso


Aí senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
Rezar o terço ao fim da tarde
Só para espantar a solidão
Rogar a deus que nos guarde
Confiar-lhe o destino na mão

Que adianta saber as marés
Os frutos e as sementeiras
Tratar por tu os ofícios
Entender o suão e os animais
Falar o dialecto da terra
Conhecer-lhe o corpo pelos sinais

E do resto entender mal
Soletrar assinar em cruz
Não ver os vultos furtivos
Que nos tramam por trás da luz

Aí senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
A gente morre logo ao nascer
Com olhos rasos de lezítia
De boca em boca passar o saber
Com os provérbios que ficam na gíria

De que nos vale esta pureza
Sem ler fica-se pederneira
Agita-se a solidão cá no fundo
Fica-se sentado à soleiro
A ouvir os ruídos do mundo
E a entendê-los à nossa maneira

Carregar a superstição
De ser pequeno ser ninguém
E não quebrar a tradição
Que dos nossos avós já vem

Carla Eugenia Caldas Barros  comenta : “direito á educação, direito de acesso à cultura”
Em seguida Manuel David Masseno  complementa: “Mais do que isso, a resistência desesperada das antigas culturas rurais locais diante dos padrões da nova cultura urbana, uniformizante.

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