sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sensacional serendipidade!



No momento em que a Faculdade de Direito da UFPB se prepara para receber, pela primeira vez, uma conferência sobre “Direito e Música”, eis que o número mais recente da Revista Polítika (n. 2) traz, em sua última página, uma charge de autoria de Rei em que se vê uma Justiça vendada ao lado das “três ceguinhas de Campinha Grande”. Para quem não conhece, Regina, Maria e Francisca são três irmãs cegas de nascença que, desde meninas, ganham a vida cantando e tocando ganzá em troca de esmolas pelas cidades e feiras do Nordeste. A história das “três ceguinhas de Campinha Grande” foi contada com muita beleza e grande poesia no documentário “A Pessoa é para o que Nasce” , dirigido por Roberto Berliner. Ao juntar, na mesma charge, a Justiça e as três irmãs cegas, Rei aponta os seus lápis e pincéis para uma Justiça próxima da cultura do povo do Nordeste e que é capaz de enxergar com os olhos da alma – assim como fazem Regina, Maria e Francisca! Desde que Platão, no “Fedro”, propôs a distinção entre os “olhos do espírito” e os “olhos do corpo”, para denotar as distinções entre um conhecimento essencial ou profundo e um conhecimento bruto ou superficial, a justiça deve ser a virtude de ir mais além do que a mera superficialidade visível dos fatos. O grande poeta Sérgio de Castro Pinto, em seu poema camões/lampião (1970), trata, com a sua costumeira maestria, do argumento da invisualidade que vê melhor: “camões / escrevia com o olho cego / por senti-lo mais seu / que o olho aberto / e por poder o olho cego / infiltrar-se, ir mais dentro / e externar o seu inverso.” Parabéns ao Rei pela sua charge que mostra que cegueira nem sempre significa o contrário de enxergar!



Enviado por Marcilio Franca

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