sábado, 1 de junho de 2013

Zé Ramalho, "Vida de gado"







Vida de gado
Zé Ramalho


Vocês que fazem parte dessa massa,
Que passa nos projetos, do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais, do que receber.
E ter que demonstrar, sua coragem
A margem do que possa aparecer.
E ver que toda essa, engrenagem
Já sente a ferrugem, lhe comer.

Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz

Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou.

Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz

O povo, foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores, tempos idos
Contemplam essa vida, numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo, se acabar
A arca de Noé, o dirigível
Não voam, nem se pode flutuar,
Não voam nem se pode flutuar,
Não voam nem se pode flutuar.

Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado e,
Povo feliz
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado e,
Povo

Enviado por Andréa Marinovic , tecendo o seguinte comentário: “Uma vez mestre, sempre mestre! Apenas citando Tércio Sampaio Ferraz Jr: "Ser livre é estar no direito e, no entanto, o direito também nos oprime e tira-nos a liberdade". Enquanto houver homens vivendo vida de gado, há que se questionar se o fenômeno "direito" está cumprindo seu papel. Novamente Tércio: "direito é um mistério, o mistério do princípio e do fim da sociabilidade humana".